Carnaval em Ubatuba. Chegamos na pousada e, indo pro chalé, olhamos pro chão. O moço da pousada disse: “Nossa, que bicho é esse?”. Era a Toca.
Não parecia um gato pq tinha uns 15 dias e o rabo cortado. Isso, cortado. Segundo a veterinária, cortado com tesoura. Como eu e minha irmã temos essa “pequena” queda por gatos, pegamos a coisinha e começamos a cuidar.
Ficamos durante o feriado lá, e ela tbm. Ficava do lado de fora do chalé quando não estávamos e fazia suas necessidades em uma pá de lixo. (por isso que amo gato, já nasce limpinho e educado). Bom, educado entre aspas. Assim que peguei a bichinha no colo, já apaixonada, ela me adotou. Fez xixi em mim. Só faltava dizer “mã-mãe”, como nos desenhos.
Voltamos pra SP. A idéia era chegar em casa, cuidar da gatinha e depois deixar com uma conhecida muito boa em doar gatinhos.
Antes disso, eu estava procurando um gatinho pra morar comigo, já que eu ia morar sozinha. Não existia ainda na minha vida Adote um Gatinho nem nada disso, então ia na Cobasi ver os bichanos. Mas nenhum me ganhava – e olha que sou fácil. Aí a Toca foi ficando, eu gastando milhões em remédios, pq a coitada tinha micose (e passou pra todos os humanos que não resistiam à filhota), machucado no rabo, falta de cálcio (parecia um pit bull, com as perninhas tortas)... comprei uma coleirinha amarela com guizo para não pisarmos na pequena e as coisas foram acontecendo. E assim, todos os nomes que eu tinha escolhido pro meu futuro gato foram substituídos por Toquinha, pq a gata sem rabo já veio com nome subentendido. E, como qualquer gato que se preze, nos escolheu ao invés de escolhermos.
Quando vi, estava limpando o cocô da bichinha, que por causa dos dodóis, ficava com diarréia e não conseguia chegar na caixinha. E eu, morando sozinha pela primeira vez, achei que ia surtar. Mas aí ela chegava com aquela carinha de “mamãe, sou apaixonada por vc” e td passava. E passa até hoje. Ela me olha com cara de gratidão, de amor incondicional. E quando eu viajo, ela me recebe como se eu fosse a coisa mais maravilhosa do mundo.
Todo mundo diz que a Toca é brava, malcriada. Ela faz fuu pra todo mundo, menos pra mim, pro Papai e pra Vovó – quer dizer, às vezes pra gente tbm. E morde, por tudo e por nada. É do tipo que quando alguém pergunta: "Posso mexer"? Vc responde: "Melhor não". A titia, que cuidou dela desde os primeiros dias, é uma mágoa, a Toca é capaz de fazer fuu até pelo skype pra ela. Mas td isso é justificado. Uma gatinha que sofreu o que ela sofreu, não gosta de muito contato e a titia, como ela pode perdoar? Trouxe um monte de gato, além da Bia, para disputar lugar.
A recompensa disso tudo? Chegar em casa e ser recebida por ela, todos os dias, sem exceção. Poder receber uma naninha de 45 minutos antes de dormir e sentir o peso dela no pé – principalmente no inverno, quando meu pé congela e só ela esquenta. Acordar com um monte de pruuu – até de sábado, quando ela esquece que não vou trabalhar. Saber que, mesmo brava, ela ama um carinho de manhã e, depois de 5 carinhos, dá uma mordidinha pra dizer chega.
Na verdade, o legal da Toquinha é a braveza. Puxou a mamãe. Qual é a graça de conquistar alguém fácil? O legal é conquistar, do jeito que conquistei, o coração da ferinha.
Até hoje a gente se pergunta se ela não é mistura de gato do mato, já que a encontramos no pé da serra. E tem gente que aposta que ela é uma jaguatirica. A jaguatirica linda da mamãe.